sábado, 4 de janeiro de 2014

Em todas as línguas...

TODOS DIFERENTES / TODOS IGUAIS

Ainda não vos tinha falado da minha experiência de jantar de fim de ano com holandeses. Pois vou contar hoje.

A grande diferença que senti foi mesmo na sua performance e no conteúdo do que comemos. Nada de mesa posta e de panelas ao lume.
Uma casa arrumada, uma cozinha arrumada, ambiente de média luz e as pessoas sentadas nos sofás a conversarem, incluindo a dona da casa.

Começou com uns canapés deliciosos e com uma apresentação muito criativa, confecionados e servidos pela anfitriã. Depois uma boa canja que surgiu sem eu saber de onde (recordo que não havia fogões ligados nem movimento de cozinha) que comemos nos respetivos lugares de sofá em que estavamos sentadas. A temperatura da canja era a ideal para se comer e estava deliciosa.
De seguida a dona da casa apresenta, e coloca na pequena mesa de apoio aos sofás, umas belas travessas com salada russa com maionaise, uma outra com atum em maionaise e diversas tacinhas com tomates cherry e diversos legumes de conserva: milho, pepino, etc.. Pão fatiado q entretanto tinha sido feito no forno, queijo e patê.
Cada um de nós tinha direito a pegar num prato de sobremesa, ir servir-se e voltar a sentar para comer.
Eu tinha levado uma garrafa de vinho (francês) que sugeri abrir-se e servir. Apenas eu e uma outra senhora mais velha o quisemos. De resto beberam sumos.

Claro que se falava holandês embora todos os presentes soubessem inglês e de vez em quando perguntavam se eu estava a perceber e se queria que traduzissem algo. Eu estava a perceber tudo, não ao pormenor mas também isso não era o mais importante.
Nunca me senti posta de parte e muito menos afastada pelo facto de não ser holandesa. Ao contrário todos muito simpáticos e sempre a perguntarem se eu estava à vontade.

As sobremesas constavam de chocolates e doces típicos da época na Holanda.

Agora factos que achei deveres interessantes:

  • O ex-marido da dona da casa (minha professora) também estava presente e - se eu não soubesse que era ex há imenso tempo – pensaria que continuavam a ser um casal normal para a idade. Ele também não é holandês e era corrigido sempre que articulava alguma palavra mal pronunciada em holandês (eu achava que ele falava holandês perfeito, mas pelos vistos não... ). Ninguém é tão perfeito como nós … em todas as línguas...

  • As conversas eram as mesmas de qualquer família portuguesa. As queixas pelo facto dos netos não estarem sempre disponíveis e atentos aos avós, de os jovens serem “interesseiros” no que respeita a ofertas e apenas ligarem quando querem algo. Os jovens são todos iguais ... em todas as línguas...
  • Uma das senhoras falava (demais) e monopolizava todos com a sua conversa desinteressante sobre assuntos particulares que pelos vistos eram já conhecidos de todos e notava-se uma certa impaciência ao ouvi-la. Era velha. A idade torna-nos mesmo repetitivos e cansativos... Em todas as línguas...

POIS É!

Somos mesmo TODOS iguais... Damos (quando damos algo) não pela alegria da partilha, da divisão do que temos e podemos dispensar e muito menos pelo prazer de dar. É sempre na esperança de que fiquem eternamente agradecidos e sobretudo que “paguem” de volta... É humano?! Porquê?!
Porque não conseguiremos dar mesmo sem NADA esperar apenas porque nos sentimos felizes no momento em que demos? Poderão ser então chamadas de dádivas as ofertas que fazemos ou serão empréstimos/pagamentos?

Não gosto da nossa falta de paciência para ouvirmos os outros ainda que eles sejam maçadores e desinteressantes.... somos/seremos nós também assim, invariavelmente.

Não gosto destas conclusões. Não gosto mesmo... em todas as línguas!

Gosto de pássaros... gosto mesmo de pássaros. Sabem voar, sabem pousar... sabem ser livres.